O poder de dizer “não” em um mundo que nos ensina o “sim"
Jul 23, 2025Como pesquisadora de gênero, percebo que uma das violências mais invisíveis e enraizadas contra as mulheres é a imposição do “sim”. Desde cedo, somos ensinadas a ceder, a agradar e a nos moldar às expectativas alheias. Aprendemos que dizer “sim” nos torna desejáveis, aprovadas, aceitas. Mas será que paramos para pensar no custo de sempre dizer “sim”? No preço que pagamos ao renunciar a nós mesmas em nome de uma sociedade que só nos valida quando somos dóceis e acessíveis?
Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo, nos alerta sobre como a mulher é construída como “Outro” no patriarcado, ou seja, como alguém que só existe em função do homem. Essa construção nos faz acreditar que nossa função é servir, acolher, aceitar. Dizer “não” é visto como uma ameaça à ordem estabelecida, uma ruptura com o papel que nos foi designado. Não por acaso, mulheres que colocam limites são frequentemente taxadas de frias, difíceis, egoístas ou até “perigosas”.
No entanto, o ato de dizer “não” é profundamente libertador. Michel Foucault nos ensina que o poder está presente em todas as relações humanas, mas onde há poder, também há resistência. E o “não” é exatamente isso: uma forma de resistir. Quando uma mulher diz “não” a uma expectativa, a uma relação abusiva ou a uma imposição social, ela está rompendo com o ciclo de dominação que tenta controlá-la. Está afirmando o controle sobre sua vida, sua voz e suas escolhas.
Nietzsche, com sua ideia do “eterno retorno”, nos desafia a refletir se as escolhas que fazemos hoje seriam dignas de serem repetidas infinitamente. Essa provocação nos faz pensar: quantos “sins” que damos por medo, culpa ou conveniência mereceriam ser vividos novamente? Quantas vezes dissemos “sim” apenas para evitar conflitos ou corresponder a uma imagem idealizada de “boa mulher”? Talvez esses “sins” não sejam escolhas autênticas, mas sim armadilhas que reforçam o controle sobre nós.
Dizer “não” é criar fronteiras. É proteger o que há de mais íntimo e verdadeiro em nós. É uma afirmação de que nossos desejos e limites importam. O “não” nos liberta para sermos quem realmente somos, e não quem os outros esperam que sejamos. É uma chave para sairmos do lugar de subserviência e irmos em direção à autonomia.
Claro, aprender a dizer “não” em um mundo que espera o “sim” não é fácil. Isso pode gerar incômodos, afastamentos e até rupturas. Mas essa dificuldade é o preço da liberdade. Cada “não” que damos por respeito a nós mesmas é um passo em direção a uma vida mais íntegra e alinhada com o que realmente queremos.
O “não” não é rejeição, mas um ato de amor-próprio. É uma forma de nos colocarmos no centro de nossas vidas, de romper com as amarras que nos prendem a papéis limitadores. Afinal, só podemos dizer “sim” de forma autêntica quando somos livres para dizer “não”. E isso, em uma sociedade que nos ensina o contrário, é o maior gesto de coragem que podemos ter.
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